[artigo de Carlos A. Heuser]
Dados Pessoais
Christian Heinrich Behncke nasceu a 17 de junho de 1826, em Dümmerhütte, Mecklenburg-Schwerin, e faleceu a 21 de março de 1898, em Centro Linha Brasil, Venâncio Aires, RS, Brasil. Na Alemanha, a família chamava-se Behncke, com “h”, e aqui no Brasil, o sobrenome foi simplificado para Bencke
Seus pais eram Johann Heinrich Behncke, pedreiro em Dümmerhütte, e Margaretha , nacida Joseph. Este casal teve ao menos sete filhos, o primeiro em Dümmerstück, aldeia vizinha a Dümmerhütte, e os demais na própria Dümmerhütte.
O batismo de Christian Heinrich aconteceu na Paróquia Evangélica de Parum/Wittenburg, conforme mostra o registro abaixo.
No banco de dados de genealogia, Christian Heinrich aparece em duas árvores:
- Christian Heinrich Behncke na Árvore Principal:
Como Christian Heinrich é meu tetravô, ele aparece na Árvore Principal que registra minhas pesquisas. Lá estão todos dados e documentos que sobre ele coletei. Lá encontram-se apenas os descendentes de Christian Heinrich com os quais meu parentesco é mais próximo. - Christian Heinrich Behncke na Árvore Bencke
Para os demais descendentes, ver a Árvore Bencke. Esta árvore foi construída para a organização de encontros da Família Bencke que aconteceram ao redor de 2000. Ela é de autoria de Berty Edwino Bencke e do Pastor Lair Hessel, e registra 2.490 ddescendentes de familiares diretos.
Biografia resumida
Segundo anotado na Bíblia de um neto de Christian Heinrich, ele teria sido soldado no Exército de Schleswig-Holstein. Este exército existiu entre 1848 e 1851, tendo sido formado para impedir a anexação de Schleswig-Holstein à Dinamarca. Em grande parte, este exército era formado por jovens voluntários que seguiam as tendências democráticas e liberais que varriam a Europa desde 1848. Christian Heinrich, provavelmente um destes voluntários, tinha ao redor de 25 anos na época.
Em 1851, quando da dissolução do Exército de Schleswig-Holstein, aparentemente, Christian Heinrich, como muitos outros jovens desse exército, encontrava-se em Hamburgo. Lá, aos 8 de abril de 1854, assinou contrato para servir como legionário ao Império Brasileiro. O contrato exigia que ele servisse quatro anos ao Exército Imperial, podendo ser dispensado ao final de dois anos. Além do soldo, ele receberia a passagem ao Brasil e, ao final do contrato, terras em uma extensão de aproximadamente 108 hectares.
Abaixo está a primeira página deste contrato (o restante pode ser visto na página referente a Christian Heinrich).
Os legionários deste grupo foram contratados para participar da Guerra contra Oribe e Rosas, que se desenrolou entre agosto de 1851 e fevereiro de 1852. No Brasil, este grupo recebeu a denominação de “Brummers“. A participação desta Legião de Estrangeiros está bem documentada no livro:
Brummers, Juvencio Saldanha Lemos, Porto Alegre, Edigal, 2015
Finda a guerra, Christian Heinrich decidiu permanecer no Brasil. O contrato lhe dava a opção de, findos os serviços, receber terras no Brasil, ou, alternativamente, receber a passagem de volta para a Alemanha, mais um prêmio em dinheiro.
Inicialmente, Christian Heinrich se estabeleceu em Dois Irmãos. Em 24 de março de 1853, na paróquia evangélica de Hamburgo Velho, Christian Heinrich casou-se com Maria Eva Augustin.
Maria Eva havia nascido a 8 de dezembro de 1826, em Mörsbach-Rhein, Alemanha e imigrado para o Brasil com seus pais e irmãos em 1847. A família de Maria Eva estava estabelecida na localidade de Walachai, que na época fazia parte de Dois Irmãos. Este grupo familiar já havia sido precedido por duas famílias de tios de Maria Eva. No banco de dados, a família está bem documentada, com seus ancestrais até um Hans Augustin, nascido em 1570.
Em 9 de fevereiro de 1852, em Walachai, Maria Eva havia dado a luz, ainda como mãe solteira, a um menino que foi batizado como Johannes Peter Augustin. Com o casamento de Maria Eva com Christian Heinrich, o menino assumiu o sobrenome do padrasto e passou a chamar -se Peter Mathias Bencke.
Em 12 de maio de 1854, ainda em Walachai, nasceu o filho Heinrich Jakob Mathias Bencke o que indica que o casal continuava nesta localidade.
No ano seguinte, em Novembro de 1855, Christian Heinrich aparece como proprietário do Lote nº4, da Entrada Rio Pardinho, na Colônia de Santa Cruz do Sul. Talvez seja o lote que aparece neste mapa. Este fato parece indicar que Christian Heinrich havia decido fazer valer a cláusula do contrato com o Império que lhe dava direito a um lote colonial.
Abaixo está um fragmento do cadastro do lote colonial em questão. O cadastro é de 1881 e documenta que o primeiro proprietário do lote havia sido Christian Heinrich. A imagem do cadastro completo encontra-se neste link.
Além deste lote na Entrada Rio Pardinho, Christian Behncke teve concedido o terreno 18 da Quadra C na Vila de Santa Cruz. O registro abaixo documenta a concessão deste lote:
Christian Heinrich e Maria Eva viveram por algum tempo em Santa Cruz, pois lá nasceram mais dois filhos, Anton Christian Bencke (*9 Jun 1857) e Johann Bencke (*10 Mar 1859).
Aparentemente, Christian Heinrich não gostou do lote que lhe havia sido concedido pelo Governo. Não sabemos a razão, mas é bem provável que tenha sido a localização do mesmo. Este lote ficava na várzea do Rio Pardinho, a Oeste de Santa Cruz, onde hoje se encontra o lago de abastecimento da cidade. Até hoje, está área é afetada por cheias regulares, causadas pelo transbordamento do Rio Pardinho.
Em 1859, ele adquiriu os lotes números 13 e 14 na Linha Brasil, hoje Centro Linha Brasil, em Venâncio Aires(vide imagem do registro do lote no site). Christian Heinrich, Maria Eva e os filhos foram os primeiros moradores desta picada. Em um outro artigo do blog há um histórico detalhado da Linha Brasil e da participação de Christian Heinrich no seu estabelecimento . Este mapa digitalizado de Venâncio Aires mostra Linha Brasil, estando os dois lotes de Christian Heinrich assinalados.
Sobre estes lotes, Christian Heinrich construiu uma bela casa de alvenaria, que lá se encontra até hoje.
A fotografia abaixo mostra o casal Christian Heinrich e Maria Eva, na frente de sua casa juntamente com toda sua descendência na época. Pelo número de pessoas na fotografia ,estimo que ela seja de ao redor de 1895, quando a família tinha alcançado ao redor de 40 pessoas, entre filhos, cônjuges e netos.
Os Behncke na Alemanha
Os meus ancestrais alemães vieram no Século 19 ao Brasil. Desde sua emigração da Alemanha, passaram-se várias gerações. Assim, é natural que não se tenha contato com parentes que lá ficaram.
O caso da Família Behncke é diferente, pois tenho até hoje contato com primos distantes na Alemanha.
Entre os documentos de meu avô Bencke, encontrei correspondência com um primo (Heinrich Johann Bernhard Behncke), que morava em Hamburgo. As cartas são de alguns anos depois da Segunda Guerra Mundial e, entre outras coisas, contém esboços das árvores genealógicas de meu avô e de seu primo. Após publicar estes dados na Web, tive a grata surpresa de receber emails de dois primos que viram os dados e reconheceram sua família.
Além deste irmão Heinrich Johann Bernhard, Christian Heinrich tinha outros cinco irmãos e irmãs. Para os cinco, me foi possível identificar identificar as localidades de óbito, conforme pode ser visto na página de Christian Heinrich.
Quanto aos pais de Christian Heinrich, Johann Heinrich Behncke e Margaretha Joseph, não consegui avançar a pesquisa de forma consistente. Nas páginas referentes ao casal, tenho alguns dados copiados de sites de Genealogia, mas não tenho nenhuma confirmação documental.
Um irmão misterioso
Um caso que merece atenção é o do suposto irmão mais velho de Christian Heinrich, Christian Carl Behn. Em uma árvore genealógica pesquisada pela Secretaria de Registro da Igreja Luterana de Mecklenburg (“Mecklenburgischer Kirchenbuchamt“), o irmã primogênito de Christian Heinrich aparece como Christian Carl Behncke, que teria nascido em Dümmerstück, a vila vizinha a Dümmerhütte, na qual nasceram os demais irmãos.
Entretanto, todos os registros que encontrei deste Christian Carl (batismo, casamento e óbito) levam o sobrenome “Behn” e não “Behncke” como o restante da família. Por estes registros, o nome do pai seria Heinrich Behn. O nome da mãe consta no registro de batismo como Christina (e não Margaretha) Joseph.
Aí fica a dúvida: Haveria um outro casal, Heinrich Behn casado com uma Jospeh, vivendo na mesma região e a confusão foi do Mecklenburgischer Kirchenbuchamt que montou a árvore em 1948? Ou, teria o pastor que fez o registro de batismo cometido um erro ao lançar o sobrenome de Christian Carl, erro este que teria se perdurado no sobrenome Behn?